A Guerra Silenciosa pela Sobrevivência dos Reinos

Por Fredi Jon

Enquanto os seres humanos discutem índices econômicos, áreas de expansão urbana e novas fronteiras tecnológicas, uma batalha constante se desenrola diante de nossos olhos — silenciosa e ancestral. Os demais reinos da vida — animais, plantas, fungos e microrganismos — seguem investindo cada energia na simples missão de existir. Eles lutam, adaptam-se, cooperam e resistem. Vivem porque nasceram para viver, não para acumular, dominar ou lucrar.

Uma árvore busca água onde parece não haver nada. Um pássaro viaja milhares de quilômetros movido apenas por seu instinto. Um fungo recompõe a fertilidade de solos devastados. Na natureza, tudo tem propósito, sentido e equilíbrio. Nada é desperdício. Nada é vaidade.

A brutalidade do contraste surge quando observamos o comportamento humano. Em nome do que chamamos de “progresso”, reconfiguramos ecossistemas inteiros, destruindo o que sustentava nossa própria existência. O que não é convertido em mercadoria é tratado como obstáculo ao desenvolvimento. Cidades se expandem como feridas abertas. Rios definhados repetem a lembrança do que já foram. Animais e plantas, que deveriam ser parceiros de existência, são empurrados para o desaparecimento.

E a conta dessa lógica já está sendo cobrada. A cada ano, o clima se torna mais extremo — verões sufocantes, invernos agressivos, tempestades devastadoras, secas que racham o solo. A natureza está apenas respondendo ao desbalanço que provocamos. Mas, ironicamente, essas mudanças climáticas se tornaram pauta política: discursos emocionados, campanhas de sensibilização, promessas de reconstrução. No entanto, por trás da retórica ambiental, os interesses permanecem os mesmos: lucro, poder, território, controle. A pauta ambiental tornou-se capital político, enquanto a destruição continua.

A sociedade moderna se apoia em valores distorcidos: velocidade em vez de profundidade, posse em vez de presença, consumo como identidade. Criamos um mundo que se torna cada dia mais inóspito — não apenas para os reinos que degradamos, mas para nós mesmos. Respiramos ar que adoece, bebemos água tratada para esconder a contaminação, comemos alimentos produzidos por sistemas que exaurem o solo e a saúde.

Os reinos não-humanos apenas pedem espaço para viver. O reino humano exige controlar, explorar, extrair. Mas a natureza não negocia. Ela reequilibra — com tempo, com força, com inevitabilidade.

Se quisermos falar em futuro, talvez seja necessário abandonar a ideia de progresso como conquista e retomá-lo como convivência. Os reinos da terra sempre souberam: sobreviver é coexistir. E nós, que nos julgamos superiores, precisamos reaprender — antes que a própria vida deixe de ter onde ser vivida.

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