Presentes Caros, Valores Baratos – O Natal em tempos de consumo, certezas vazias e silêncio interior

Por Fredi Jon

O Natal chega e o ser humano corre — não para dentro de si, mas para o cartão de crédito. Compra-se como quem tenta anestesiar o incômodo de existir. Quanto mais vazio, mais sacola. Chamamos isso de tradição, mas soa mais como fuga. Se o Natal fosse cancelado, o que sobraria de nós? Silêncio? Afeto? Ou só a ansiedade por não saber quem somos sem o ritual do consumo?

Vivemos a era da certeza sem estudo. Nunca se leu tão pouco e nunca se falou tanto. Opinião virou moeda social. Quanto mais barulhenta, mais valorizada. Pensar dá trabalho, duvidar exige coragem — então preferimos repetir frases prontas, defender causas que não compreendemos e atacar pessoas que nunca ouvimos. As redes sociais não são mais espaços de troca: são arenas. Não se conversa, se vence. Não se aprende, se lacra. Desde quando gritar substitui entender?

E que Natal é esse em que ninguém se pergunta:
Por que tenho tanto e sinto tão pouco?
Por que exijo respeito, mas não escuto ninguém?
Por que defendo a “verdade” se nunca me dei ao trabalho de investigá-la?
Por que milito com raiva e chamo isso de consciência?

Fala-se em amor, mas não se tolera o diferente.
Fala-se em família, mas não se suporta o diálogo.
Fala-se em empatia, mas só para quem pensa igual.
Que valor é esse que só funciona em discurso?

O menino do presépio nasceu pobre, frágil, deslocado — e nós o homenageamos com excesso, pressa e ostentação. Não é contradição, é ironia histórica. Talvez, se ele aparecesse hoje, seria cancelado, rotulado ou ignorado por não caber em nenhum algoritmo.

O problema não é o mundo. É o espelho.
Não é a falta de informação — é a recusa em aprofundar.
Não é a ausência de valores — é a escolha consciente por não praticá-los.

Então fica a provocação que incomoda:
Se o Natal exige menos consumo e mais consciência, você está disposto?
Se exige menos certezas e mais perguntas, você aguenta?
Se exige silêncio, escuta e responsabilidade, você fica?

Talvez o verdadeiro espírito do Natal não seja confortável.
Talvez ele não venha embrulhado.
Talvez ele venha como uma pergunta incômoda que insiste em não ir embora.

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